Na essência do mundo, encontra-se uma vontade cega e faminta. O indivíduo deseja sempre, sendo este seu mais íntimo ser. A vida é sofrimento. O caráter é imutável, ninguém pode deixar de ser o que é. Não há livre-arbítrio. Toda esperança em um porvir redentor é uma vã ilusão. A filosofia de Schopenhauer seria um pessimismo radical? Em certa medida, sim, certamente. Mas talvez seja o caso de perguntarmos “de que pessimismo estamos falando?”. A partir da investigação metafísica que nos oferece tal diagnóstico sobre o mundo, o filósofo apresenta a possibilidade de uma orientação eudemonológica para enfrentar o “mal de viver”. Trata-se de recomendar o exercício de uma postura positiva diante da existência: a conquista de uma sabedoria de vida. Todavia, como compreender esta proposta de “orientação da conduta” em face da recusa de Schopenhauer ao livre-arbítrio? O presente artigo pretende investigar esta questão, apresentando a hipótese de que a filosofia de Schopenhauer nos preserva uma estranha “possibilidade de ação” sob a forma de uma “liberdade que nos resta” para prática de vida.